Alimentos, combustíveis e desemprego ameaçam estabilidade, alertam BM e FMI

Os elevados preços dos alimentos e dos combustíveis e o desemprego se transformaram em três grandes ameaças para a estabilidade global

Teresa Bouza.

Washington, 14 abr (EFE).- Os elevados preços dos alimentos e dos combustíveis e o desemprego se transformaram em três grandes ameaças para a estabilidade global, disseram nesta quinta-feira os responsáveis do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM).

"Se alguém somar as oscilações dos preços (dos alimentos) com os elevados custos dos combustíveis, irá obter uma bebida tóxica que causa verdadeiro sofrimento e contribui para a instabilidade social", declarou nesta quinta-feira o presidente do BM, Robert Zoellick.

Em entrevista coletiva após a reunião conjunta de BM e FMI, ele ressaltou que os preços dos alimentos subiram 36% no último ano e arrastaram 44 milhões de pessoas ao nível da pobreza desde junho.

Segundo o organismo, uma alta adicional de 10% poderia fazer com que outras 10 milhões de pessoas caíssem para baixo da linha da pobreza, que agrupa aqueles que vivem com menos de US$ 1,25 por dia. O BM estima que há cerca de 1,2 bilhão de pessoas nessa situação.

Nos níveis atuais, os preços já se encontram próximos ao qual estavam em 2008, quando a alta dos preços dos alimentos provocou revoltas em vários países em desenvolvimento.

Um relatório publicado nesta quinta-feira pelo BM indica que a inflação alimentar é superior a 10% no Egito e na Síria e lembra que produtos básicos como o milho subiram 74%, enquanto o preço do trigo aumentou 69% e da soja, 36%.

Para amortecer o impacto dessa escalada, o BM pediu para elaborar programas de nutrição aos setores mais pobres da população, bem como eliminar as restrições às exportações, aumentar os investimentos agrícolas e melhorar os prognósticos meteorológicos, entre outras medidas.

O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, falou nesta quinta-feira que a recuperação econômica global continua, mas que não é a recuperação desejada, porque não cria "empregos suficientes".

Em entrevista coletiva posterior à de Zoellick, Strauss-Kahn lembrou que a teoria generalizada até agora tinha sido de que, "se há crescimento, há empregos". Mas, segundo ele, as coisas não são "tão fáceis".

"Certamente é necessário ter crescimento, não há dúvidas a respeito", explicou o dirigente do FMI. Segundo ele, também é preciso haver políticas trabalhistas adequadas, que envolvam programas educativos, cursos de formação e auxílio-desemprego.

Strauss-Kahn advertiu que, caso essas medidas não sejam colocadas em andamento, pode haver crescimento econômico sem geração de emprego, deixando muitas pessoas à margem e com o potencial risco de instabilidade social, algo que, segundo ele, ficou claramente manifesto no Egito, onde a rebelião popular de janeiro chegou a derrubar o ex-presidente Hosni Mubarak.

O analista ressaltou que os dados macroeconômicos não significam nada se as pessoas não sentirem melhoras no nível de vida. Para exemplificá-lo, Strauss-Kahn mencionou os casos de Egito e Tunísia, "onde os números macroeconômicos não são ruins, mas o povo não nota mudanças em sua situação".

Além disso, ele afirmou que a recuperação econômica global é "desequilibrada" e as incertezas, "muito altas".

Para os países desenvolvidos, o principal desafio é os elevados índices de desemprego, bem como os desafios no terreno fiscal e financeiro.

Já os países em desenvolvimento, alertou, enfrentam o risco de superaquecimento, enquanto as nações pobres têm de lidar com o aumento da produção de matérias-primas, que poderia provocar um cenário de dificuldades "tão grande e difícil como o que tiveram em 2008". "Precisamos de ações urgentes", insistiu.

Em sua opinião, os países ricos necessitam reparar e reformar seu setor financeiro e adentrar a médio prazo em um caminho fiscal sustentável. "A recente declaração do presidente (americano, Barack) Obama é muito bem-vinda, aponta a direção correta", explicou.

Os países emergentes, sempre que tiverem espaço para isso, precisam ajustar sua política monetária, retirar todas as medidas de estímulo iniciadas durante a crise e impulsionar a demanda doméstica. EFE

Source: G1