A aventura do vinho em terras brasileiras

Nos vinhedos da Serra Gaúcha, mais de 600 adegas de tradição familiar produzem cerca de 90% do total do vinho nacional

O relevo caprichoso da Serra Gaúcha, no sul do Brasil, cheira e tem gosto de uva madura, mas os produtores de vinho locais têm pela frente o difícil desafio de conquistar o paladar de um consumidor acostumado a ter sempre à mão uma taça transbordante de outras bebidas.

Nos vinhedos da região, mais de 600 adegas de tradição familiar - que aplicam os conhecimentos pela enologia que herdaram de seus antepassados italianos desde meados do século XIX - produzem cerca de 90% do total do vinho brasileiro, segundo dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin).

De acordo com um estudo divulgado pelo organismo, a produção de vinhos no Rio Grande do Sul supera os 2,45 milhões de hectolitros, muito longe da faixa de 32,5 milhões a 48 milhões de hectolitros de vinho dos grandes produtores tradicionais como França, Espanha e Itália, e também dos fabricantes do novo mundo.

"Acreditamos sem dúvida no crescimento do mercado. O mercado do vinho no Brasil está em crescimento quantitativo e qualitativo", diz o diretor-executivo do Ibravin, Carlos Paviani. Segundo o especialista, a indústria do vinho no país experimentou um salto qualitativo, que desembocou na aposta em vinhos de qualidade nos últimos 15 anos, devido à abertura da economia do Brasil e à aplicação de novas tecnologias.

Década do auge

"Esta década que estamos vivendo é a mais importante para o setor", diz Paviani, explicando que até o momento que a economia do Brasil iniciou o processo de abertura econômica a produção de vinhos locais não tinha concorrência, mas com a entrada de novos atores as vinícolas começaram a desenvolver estratégias para não perder sua porção do bolo.

Paviani qualifica o mercado dos vinhos de mesa de "difícil e competitivo" por isso, de acordo com o diretor, é necessário que se produza um movimento rumo aos vinhos de qualidade para evitar que o produtor fique fora do mercado. Ele considera provado o esforço de vinícolas brasileiras para se posicionar no segmento de alto padrão, como demonstra o surgimento de regiões produtivas que estão perfilando a criação de uma denominação de origem controlada.

Está previsto que a primeira denominação para vinhos do Brasil, que levará o nome de Vale dos Vinhedos e fica no Rio Grande do Sul, saia em 2011. O diretor de marketing do Ibravin, Diego Bertoli, assegura que a criação da denominação de origem servirá para que os produtores aumentem a qualidade de seus produtos. Mas a medida não deve ser útil para aumentar o consumo.

O preconceito contra os vinhos nacionais é evidente, segundo Bertoli, que afirma ser necessário fazer campanhas de promoção centradas em escrever a história dos vinhos do Brasil. No entanto, o principal impedimento para conquistar o paladar do consumidor local não é a concorrência exterior, mas sua preferência por outras bebidas. "Nosso concorrente não são os vinhos importados, mas a cerveja e a cachaça", acrescenta.

Segundo os dados disponibilizados por Bertoli, o consumo de vinho por pessoa ao ano no Brasil é de apenas dois litros, o que representa uma mínima parte do mercado de bebidas alcoólicas, amplamente dominado pela cerveja. Desta última, são consumidos no Brasil 50 litros por pessoa ao ano e 11 litros no caso da cachaça, com a qual se elabora a bebida mais famosa do país, a caipirinha.

"Os brasileiros têm um paladar infantil, eles gostam de coisas doces. É preciso começar com vinhos doces e espumosos para chegar aos outros tipos, e desmistificar a visão elitista do vinho para popularizar seu consumo", concluiu.

Para o presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), Aldemir Dadalt, a criação da denominação de origem tem o objetivo de "avançar na qualidade, intensificar a projeção mundial dos vinhos do Brasil e agregar valor".

 

Fonte: Globo Rural