Alimentos em risco

A Arca do Gosto, projeto do movimento Slow Food, protege espécies ameaçadas e promove a resistência de comidas típicas, que caminham rumo ao ostracismo

 Umbubabaçucastanha de baru, pinhão da serra catarinense e arroz vermelho provavelmente não fazem parte de sua alimentação. E frequentam a mesa de cada vez menos brasileiros. Ameaçados de extinção, esses alimentos deixaram de ser consumidos em comunidades onde, no passado, já foram tradicionais. Mas nem tudo está perdido para esses ingredientes de nomes e formas exóticas e com sabor acentuado. Alguns agricultores, incentivados pelo projeto Arca do Gosto, buscam soluções para a produzir e comerciá-los de forma rentável e, acima de tudo, sustentável.

A pesquisadora gastronômica Neide Rigo é uma das envolvidas nessa cruzada pela preservação da biodiversidade alimentar. Em uma aula dedicada a alguns desses alimentos tradicionais, ministrada na escola de culinária Wilma Kövesi, na cidade de São Paulo, ela explica que o movimentoSlow Food – que vai contra a corrente de fast food em todo o mundo – envolveu-se também num projeto para salvar ingredientes sob risco de extinção. Assim foi criado a Arca do Gosto, que chegou ao Brasil em 2006.

 A inspiração para o nome do projeto veio da passagem bíblica na qual Noé salva um casal de cada espécie animal do dilúvio. Já na Arca do Gosto, os vegetais são os resgatados, e o principal inimigo não é a água, mas o esquecimento.

O funcionamento é simples: alguém indica um pequeno produtor ou comunidade que trabalhe com algum elemento tradicional, de origem brasileira ou bem adaptado ao país. Membros da Arca recebem a indicação e visitam o local para degustar o produto e ver se ele é cultivado de maneira sustentável, permitindo a conservação da espécie e do ambiente que o cerca. Para ser aprovado, o produto deve ter qualidade gastronômica, relacionar-se com os costumes locais e fazer parte de sua memória e identidade. A produção deve ser pequena, e a planta ou animal em questão precisa estar em risco (real ou potencial) de extinção.

“O objetivo não é criar um selo de Arca do Gosto ou promover o comércio em grande escala. Queremos apenas incentivar o consumo local e valorizar os pequenos produtores”, afirma Neide. O ideal, segundo ela, seria que alguns restaurantes adotassem os alimentos da Arca em seus cardápios, para difundi-los e ajudar os produtores. Mas como os fornecedores não conseguem se comprometer com quantias fixas dos alimentos todos os meses, nem sempre a parceria é possível.

 

Source: Globo Rural