
Framboesa-dourada
A variedade vem ocupando espaços antes dedicados à framboesa-vermelha, a mais comum no mercado brasileiro
Surgida a partir de uma mutação natural, a variedade amarela da framboesa, popularmente conhecida como dourada, está se transformando em um hit de sucesso - tanto no Brasil como no mercado internacional. Produzida em escala comercial há mais de quinze anos no Chile e nos Estados Unidos, a nova variedade aportou em solo brasileiro há três anos e desde então tem mercado garantido. "Tudo o que produzo eu vendo", diz o agrônomo Rodrigo Veraldi Ismael, o maior disseminador da fruta no Brasil.
O pai de Ismael, João Paulo, já cultivava, 30 anos atrás, framboesas na propriedade da família, situada na Serra da Mantiqueira, no município de São Bento do Sapucaí, SP. "O cultivo de frutas vermelhas sempre foi muito comum nessa região, de alta altitude e clima frio, propícia para o desenvolvimento dessas variedades", conta Ismael, que de apreciador das pequenas frutinhas se tornou um especialista. "Não há especialidade acadêmica nessa área, mas posso dizer que mantemos aqui em nossa propriedade o maior acervo genético do país, com 20 variedades diferentes, dentre as quais se destaca a dourada", diz o agrônomo, que dedicou os últimos oito anos ao estudo das pequenas frutas.
O agrônomo Rodrigo Ismael produz dez toneladas de framboesas por ano em viveiros que ocupam três hectares
O plantio da framboesa-dourada, cujo sabor é um pouco mais azedo que a variedade tradicional, cresce no rastro das frutas vermelhas. "Trata-se de uma fruta fina e exótica que tem sido bastante apreciada", diz. O próprio agrônomo está ampliando a área de cultivo de um para três hectares, em função da excelente demanda. "Hoje tenho 20% de dourada, mas com as ampliações que estou fazendo esse índice vai saltar para 50%", diz.
Pela mutação natural à que foi submetida, uma determinada variedade de framboesa deixou de desenvolver o gene responsável pela produção de antocionina, que dá cor vermelha à fruta. "Trata-se, portanto, de uma fruta albina", atesta o agrônomo, atualmente o único fornecedor de mudas dessa variedade exótica, por meio do Viveiro Frutopia. "As mudas da variedade dourada são comercializadas por 25 reais a unidade. Já as da framboesa-vermelha saem por 2 reais a unidade", diz.
O investimento compensa. Segundo Ismael, o quilo da vermelha é comercializado pelo produtor a 10,50 reais e chega ao consumidor final oscilando entre 80 e 150 reais, dependendo da época do ano. Já o quilo da amarela é vendido a 12,50 reais e chega aos supermercados por 200 reais. Ambas as variedades demandam os mesmos tratos culturais. "São plantas rústicas, mas que exigem cuidados diários, uma vez que as frutas são delicadas. É uma atividade indicada ao pequeno produtor", conta. Os custos de produção de um quilo de fruta se situam em 4 reais. Segundo cálculos do agrônomo, uma estufa de 1.000 metros quadrados de framboesa rende por ano 40 mil reais ao produtor. "Hoje, 99% da produção ainda é vendida congelada para a confecção de sucos e geleias e apenas 1% é comercializada in natura."
O Brasil é mercado bastante promissor. "Para chegarmos a 10% do mercado americano, o que não deve demorar a acontecer, precisaremos de 500 hectares para cultivo e a safra saltaria para 200 toneladas por ano", diz Ismael. Nos Estados Unidos, o consumo per capita de frutas vermelhas é de 300 gramas por habitante por ano. Já o Brasil produz atualmente em apenas 40 hectares e colhe uma safra de cinco toneladas por ano.
Além das framboesas, Ismael também cultiva amora, mirtilo, pêssego, ameixa, maçã e uva - variedades viníferas. "No ano passado colhemos nossa primeira safra e engarrafamos as primeiras unidades de um vinho que estamos trabalhando para ser de altíssima qualidade", diz o fruticultor, cuja propriedade está situada a cerca de 1,6 mil metros de altitude.
Mudas da variedade dourada são comercializadas por 25 reais a unidade e começam a produzir a partir do segundo ano.
Fonte: Globo Rural