Nestlé arrenda parte da fábrica da Bom Gosto em PE

A Nestlé do Brasil vai investir entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões para ampliar sua produção no Nordeste. Para isso, a fabricante fechou na quinta-feira (13) um acordo com o grupo gaúcho Bom Gosto, que este ano adquiriu a fábrica da Parmalat em Garanhuns (PE). Segundo o presidente da Nestlé, Ivan Zurita, o contrato prevê "uma espécie de arrendamento" da unidade pernambucana da Bom Gosto, de onde sairá toda linha de lácteos refrigerados da Nestlé, como iogurtes, leites fermentados e sobremesas. "Vamos construir no local onde já existe a fábrica e traremos linhas inteiras de equipamentos de produção, com contratação de pessoal".

A Nestlé - que no passado chegou a avaliar a aquisição do ativo da Parmalat - já comprava o excedente de produção de leite da fábrica pernambucana para sua unidade de produção em Feira de Santana (BA). Agora, prevê fabricar na unidade entre 25 mil e 30 mil toneladas de produtos lácteos refrigerados por ano, segundo Zurita.

O diretor-presidente da Bom Gosto, Wilson Zanatta, informou que vendeu equipamentos para fabricação de iogurtes que estavam ociosos para a Nestlé. Segundo ele, a multinacional vai investir em novas máquinas para aumentar a capacidade da unidade de Garanhuns no segmento de refrigerados, mas não será necessário construir uma nova planta porque a Nestlé vai usar apenas 3 mil metros quadrados dos 19 mil metros quadrados da fábrica. O contrato é válido por cinco anos, com possibilidade de renovação. A Bom Gosto, que produz iogurte somente no Paraná, com a marca Líder, receberá pelo arrendamento da área e pelo fornecimento de leite para a multinacional.

A operação deve consumir, no início, 50 mil litros de leite por dia, o equivalente a 10% da capacidade de processamento da unidade de Garanhuns, que produz também leite longa vida e tipo C, leite em pó, condensado e creme de leite. No futuro, o volume processado para a Nestlé pode chegar a 100 mil litros por dia. Segundo Zanatta, a Bom Gosto já produz concentrado de leite para a multinacional desde 2001 em Tapejara (RS), sede da companhia. O volume processado para a Nestlé chega a 200 mil litros por dia.

As duas empresas têm até o fim do mês para entregar ao governo de Pernambuco um documento explicitando os investimentos no Estado, para obter incentivos fiscais. Segundo o secretário de desenvolvimento econômico de Pernambuco, Fernando Bezerra Coelho, em âmbito federal a fabricante que se instalar no Nordeste já conta com 75% de abatimento no Imposto de Renda. Quanto mais distante da região metropolitana de Recife, maior o incentivo, explica Jenner Guimarães do Rego, presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (AD Diper). "O objetivo é equilibrar o desenvolvimento econômico e social de todo o Estado", afirma. No caso do investimento em Garanhuns, essa redução no ICMS seria da ordem de 90%.

Garoto produzirá chocolates Nestlé

A fábrica da Garoto em Vila Velha (ES) vai produzir chocolates da Nestlé pela primeira vez desde 2002, quando a multinacional suíça comprou a fabricante nacional. Até agora, apenas produtos Garoto desenvolvidos após a aquisição, como o Talento Cream, foram produzidos em unidades da Nestlé. Nos demais itens, as duas marcas mantinham produções separadas. Mas a partir desta semana, além dos chocolates com a marca Garoto, uma das linhas de produção da planta capixaba será dedicada a produtos da "companhia mãe" - mesmo sem que tenha saído uma decisão judicial final sobre a aquisição.

O assunto tramita no Tribunal Regional Federal (TRF) de Brasília. A batalha judicial começou em 2004, após o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ter vetado o negócio e determinado a venda da Garoto. A Nestlé recorreu ao Judiciário e obteve uma decisão que derrubou o veto. O Cade, então, entrou com o recurso que está sob análise do TRF.

"Investimos R$ 200 milhões em novas linhas de produção na fábrica da Garoto", disse Ivan Zurita, presidente da Nestlé Brasil. Essas novas linhas aumentaram a capacidade de produção da planta em 30%. Uma delas começa a produzir nesta semana 60% dos ovos da Páscoa 2010 da Nestlé. A Nestlé produziu 50 milhões de ovos para a Páscoa deste ano e para a próxima planeja chegar a 60 milhões.

A transferência só está sendo feita agora, quase oito anos após a aquisição, porque, segundo ele, a companhia precisou esperar vencer os contratos que tinha com os fabricantes terceirizados. "Nossa decisão de trazer parte dessa linha para Vila Velha não tem nada a ver com o Cade", disse o presidente.

Fonte: Valor Econômico