LEITE

Entenda como funcionava o esquema de adulteração do leite

Investigação, comandada pelo Ministério Público, por meio das promotorias de Justiça Especializada Criminal e de Direito do Consumidor, em conjunto com o Ministério da Agricultura, identificou cinco empresas de transporte de leite suspeitas de adulterarem o produto antes de entregá-lo às indústrias. 

Veja como ocorria a fraude:

 

Esquema LEITE

FONTE: ZERO HORA. Disponível em: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/economia/noticia/2013/05/entenda-como-funcionava-o-esquema-de-adulteracao-do-leite-4130888.html>

 

COMENTÁRIO:

Mais uma vez o leite é manchete de jornais, noticiários e redes sociais. Infelizmente tal exposição não se dá pelos benefícios do leite e sim pela falta de escrúpulos de alguns membros dessa complexa e importante cadeia produtiva. Há não muito tempo vimos o caso da china onde o leite foi fraudado com melamine para “aumentar” o teor de proteína. No Brasil vimos a operação ouro branco e agora a operação “leite Compensado” no Sul do país, quando foi detectada a fraude de leite com ureia, uma fonte de nitrogênio usado na agricultura e pecuária.

Quando se fala em pagamento do leite por qualidade um dos itens importantes na maioria dos programas de pagamento de qualidade é o teor de proteína total. Assim era previsível que alguma alternativa seria buscada para compensar a redução do teor de proteína e essa solução seria por meio de fraudes, como a adição de água ou outro diluente. Outra possibilidade seria aumentar o teor de proteína para aumentar a bonificação por esse componente, assim como aconteceu na china com o caso da melamine.

As técnicas para detecção de proteínas se baseiam na quantificação da quantidade nitrogênio do leite, portanto aumentar esse elemento no leite significa aumentar o teor de proteína. Com a nova realidade do leite, as empresas encaminham amostras aos laboratórios da Rede Brasileira de Qualidade de leite e assim recebe resultados completos para a composição do leite. Com essa facilidade a indústria pode estar se esquecendo ou deixando em segundo planos as análises de rotina na recepção do leite que com certeza se estivessem sendo realizadas e os técnicos interpretando os resultados de todas análises e suas interações essa fraude não teria perdurado por tanto tempo. Tal afirmação pode ser avaliada pelos resultados do trabalho de Oliveira, M.B et AL, apresentado no 8º Simposio Latino Americano de Ciência de Alimentos. Nesse trabalho leite foi fraudado com diferentes concentrações de Nitrato de sódio (salitre do Chile) e Ureía, os resultados mostraram que parâmetros como densidade, crioscopia e teor de nitrogênio (total e não proteico) aumentaram significativamente no leite adicionado de ureia. Assim se as análises de rotinas estivessem sendo realizadas com a frequência e cuidados recomendados o problema poderia ter aparecido antes de tomar tamanha proporção.

Como as análises de proteínas preconizadas e realizadas consideram apenas proteínas totais todo nitrogênio colocado no leite pode aparecer como proteína. Se fossem determinados os teores de nitrogênio total e  não proteico e correlacionando-se esses dois parâmetros ficaria claro que esse leite, ou teria recebido nitrogênio de outras fontes ou seria um leite obtido sem condições higiênicas e refrigeração adequadas possibilitando assim a hidrolise proteica por proteases microbianas, em ambas situações os leite apresentaria menor rendimento de produtos e vida de prateleira reduzida.

Em fim o compromisso de todos os elos da cadeia láctea é essencial e talvez o único caminho para que o leite do Brasil seja realmente um produto confiável e respeitado.

 

Professor Celso José de Moura

Escola de Agronomia UFG

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