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UTILIZAÇÃO DE BIOTECNOLOGIA NA SUBSTITUIÇÃO DO USO DE PESTICIDAS NA AGRICULTURA

A agricultura e a biotecnologia aliaram-se para tornar o cultivo de plantas mais eficiente. Pragas, doenças e problemas climáticos, por exemplo, sempre foram obstáculos à produção de alimentos. Porém, a engenharia genética permitiu a criação de tecnologias que reduzem as perdas e aumentam a produtividade das lavouras. Recentemente, na Europa, foi desenvolvido um novo método baseado na utilização de Ácido Ribonucleico (RNA) por aplicação tópica de moléculas ou alteração genética das plantas. Estas moléculas biológicas, que estão a ser testadas, são muito mais direcionadas para alvos específicos, ao contrário dos pesticidas que tendem a matar todos os insetos e até a afetar outros organismos como bactérias, fungos e outras plantas.

A utilização de pesticidas em lavouras tem sido cada vez mais discutida, por causar riscos ao meio ambiente e à saúde humana. Nesse contexto, têm sido estudadas novas formas para substituição desses pesticidas e uma delas é a utilização dessa biotecnologia.

O professor da Universidade Federal de Goiás, Gabriel Luís Castiglioni, atua na área de bioprocessos e biotecnologia, diante disso, realizamos uma entrevista com o mesmo a fim de saber suas impressões e expectativas sobre o novo método:

 

Qual a vantagem da troca de pesticidas para o uso de biotecnologia na agricultura?

“O uso de biocompostos pode auxiliar no sentido de combater e, ao mesmo tempo, não ter uma ação tão prejudicial quanto o uso de agrotóxico, caso o mesmo não tenha ação prejudicial às pessoas. É um reflexo muito grande na produção de alimentos, pois assim teríamos alimentos de boa qualidade, sem risco ao consumo.”

 

O senhor considera esse método seguro?

“Tudo deve ser estudado, pode ter uma segurança, mas pode ocasionar um desbalanço. Não é pelo fato de trabalhar em uma molécula natural que o risco é reduzido a zero. Sabemos que existem compostos naturais que são tão prejudiciais quanto aqueles produzidos sinteticamente. Por isso há um grande trabalho de pesquisas e testes envolvendo diversas áreas: biólogos, engenheiros agrônomos, engenheiros mecânicos, entre outros.”

 

O senhor acha que essa metodologia pode ser aplicada no Brasil?

“É uma tendência e eu espero que sim. O grande desafio é conseguir avaliar de uma forma eficaz para colocar no mercado. Alguns pesticidas tem uma ação mais pontual, como por exemplo, um que controla apenas as ervas daninhas. Assim como esses biocompostos. Tem alguns insetos que são importantes dentro da cadeia produtora e com a biotecnologia pode-se trabalhar em uma área específica. Às vezes, a carência de um molécula pode ser maior e prejudicar um pouco, mas deve-se pesar a dimensão do espectro geral. Há vários pontos positivos e negativos. Podemos pensar: “Isso é a solução de todos os problemas da humanidade”, mas não é bem assim. Tem a sua funcionalidade, que é excelente, mas não conseguimos resolver só com um alimento ou só com um pesticida. Seria muito bom se tivesse, pois trabalhar só com uma praga é mais fácil, mas não é possível trabalhar de forma isolada, porque tem todo o ecossistema envolvido, e é impossível não avaliar a ação frente ao todo. Por isso que muito desses produtos ainda não chegaram no mercado, principalmente no Brasil. Economicamente pode ser bom, mas pode ser que ambientalmente, não. Fechar esse ciclo sustentável não é simples. O futuro está na biotecnologia, mas ainda não há como escapar dos sintéticos, por exemplo, alguns pesticidas no mercado são obtidos de forma biológica.”

 

O professor concluiu sua fala apoiando o estudo e as novas implementações da biotecnologia na agricultura dizendo:

“Eu aposto que a biotecnologia tem muito a contribuir, talvez não tão rápido. A cada ano vemos coisas novas impressionantes, e tudo é uma questão de tempo e estudo.”

 

Agradecemos a disponibilidade do professor em nos receber, esclarecendo algumas dúvidas, e pela entrevista.

Fonte: Gabriel Luis Castiglioni, professor e pesquisador da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás.